5 Motivos para assistir Servant

bel petit
7 min readFeb 13, 2022

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Desde a estreia da série Servant me faço a mesma pergunta: como assim essa série não emplacou? Não está entre mais comentadas? Cadê o hype que essa série merece?

Servant estreou em 2019, criada pelo produtor e escritor Tony Basgallop (dentre os trabalhos, foi roteirista de alguns episódios da série 24 Horas) e produzida por M. Night Shyamalan — inclusive foi a presença dele que despertou meu interesse inicial pela série.

Okay, citar o nome Shyamalan pode ser bandeira vermelha pra alguns (gênio incompreendido) mas apesar de dirigir alguns episódios, a série não tem muito a ver com os trabalhos autorais do cineasta. Digamos, e aí me colocando no lugar de quem não é tão fã assim, Servant tem exatamente o que Shyamalan entrega de melhor em seus filmes — está bom assim?

Pois bem, a série conta a história do casal Sean e Dorothy, o que se sabe ao início é que estão se recuperando de um trauma recente enquanto procuram uma babá para seu bebê Jericho. E então, recebem a visita de Leanne, uma jovem discreta e educada, que parece ser a escolha perfeita. Porém… … algumas coisas não são o que parecem e a jovem vem para tornar tudo ainda mais bizarro.

Servant transita entre elementos de terror, suspense e drama, é licenciada e exibida pela Apple+ TV — o que, num primeiro momento, me pareceu o motivo principal da baixa popularidade mas não faz muito sentido uma vez que nem todos assinam streamings como HBO Max e Disney+ e ainda assim assistem às séries de ambas, pra citar dois exemplos apenas.

Se o que falta é informações sobre a série, vou deixar aqui 5 motivos para começar a assistir o quanto antes!

1. Duração dos episódios — ± 30 min.

Das reclamações mais comuns do público geral é que episódios de série são longos demais, e não sem razão. Justo que tem séries incríveis com episódios de +50 minutos de duração mas é realmente complicado ajustá-las à rotina, ainda mais pensando em trabalho-sono-exercícios. Quem tem tempo, não é?

Isso não é um problema em Servant. Inclusive, quando comecei a assistir esperava logo de cara um episódio de pelo menos 45 minutos. Qual a surpresa de que cada episódio não passa dos 30 minutos MUITÍSSIMOS BEM APROVEITADOS.

Não se vê correria aqui.

Servant mostra que tem como se trabalhar um roteiro interessante, complexo e bem amarrado sem precisar apelar para episódios de 1 hora.

Nada contra séries longas, veja bem. Tem séries incríveis como Euphoria, Succesion e The Crown que precisam lá das suas quase 1 hora, às vezes mais. Contudo, é bom ver um outro formato de série do gênero terror/drama, numa duração que é mais comum às sitcons e séries de humor.

2. Não tem fillers

Outra reclamação bem comum do público são os fillers, que basicamente são episódios nos quais nada acontece, feijoada: a história não tem grandes acontecimentos, no máximo só estende algum plot twist de episódios anteriores, seguindo um enredo morno — em outras palavras, só pra “bater cartão” e prolongar a temporada.

Servant não tem isso.

Nas suas duas temporadas completas (a 3ª está sendo exibida com episódios lançados semanalmente) são 10 episódios cada. Portanto, a proposta é, além de uma duração mais ‘compacta’, as temporadas são mais enxutas e, por consequência, a história mais fluída e objetiva afinal os acontecimentos tem que se desenrolar nessas pouco mais de 5 horas totais/temporada (fiz a conta certo?…).

Aliás, o planejamento dos episódios é excepcional! Cada um tem seu conceito próprio, seu ponto central mas, ao mesmo tempo, se conecta perfeitamente aos demais. Desta forma, cada temporada apresenta histórias ricas tanto individualmente quanto coletivamente.

Portanto, Servant é à prova de sono e tédio. Sempre tem algo acontecendo, em seu momento, sem correria mas aproveitando bem cada minuto de duração.

3. Direção e produção

Como falei acima, alguns episódios são dirigidos por Shyamalan, geralmente os mais decisivos, primeiros e últimos episódios. Também faz parte da lista de direção a talentosíssima Ishana Shyamalan, filha do cineasta.

Mas mesmo quando não está sob o olhar da família Shyamalan, assistir à Servant é ter certeza de acompanhar uma série muitíssimo caprichada na produção e direção.

E sem querer dar expectativas mas já lançando essa: a 3ª temporada está conseguindo se superar nesse quesito — o primeiro episódio tem referências ao cinema de Alfred Hitchcock e é de tirar o fôlego. Além disso, o mais recente episódio, “Ring” (trad.: Anel — 4º episódio da 3ª temporada) é um dos mais poéticos e conceituais da série e muito disso se dá pela direção incrível do britânico Dylan Holmes Williams.

Fora isso, elementos cinematográficos como roteiro, trilha sonora, fotografia, até mesmo figurino e mise-en-scène* foram escolhidos e explorados com esmero para entregar um resultado finíssimo. O espectador consegue captar todo a meticulosidade envolvida em cada episódio da série.

Prato cheio pra quem gosta de audiovisual bem feito.

4. Elenco

Falei da produção mas seria muita injustiça não citar nessa lista o trabalho fabuloso do elenco e em especial do elenco fixo.

A série tem um quê de “algo está errado”, além do roteiro e demais elementos técnicos, o elenco é responsável por isso com atuações genuinamente boas. Tanto que cada personagem é convincente, você compra aquela verdade, a ponto de não haver um sentimento dualista — mocinhos e bandidos.

Você simplesmente é envolvido na trama também porque cada personagem te conduz para tal.

Verossímil e inverossímil se misturam e quando percebemos estamos entregues àquelas pessoas, não só como observadores mas como parte daquela bizarrice toda.

Começando pela excelente Lauren Ambrose, talvez o maior desafio em termos de atuação, Dorothy é uma mãe sofrendo um trauma, oscilações de humor são comuns e o caminho mais fácil é a caricatura mas Ambrose entrega naturalidade. É nas sutilezas de olhares e gestos que o alicerce da personagem é construído e a cada temporada a atriz parece mais à vontade e segura no papel.

O mesmo pode ser dito sobre Nell Tiger Free, teria tudo para performar Leanne da forma mais estereotipada e isso não é nem de longe o que é entregue. Leanne é complexa sem exageros, sem forçação de barra, sem apelar pra clichês e tropos da “menina esquisita”, de modo que na maior parte do tempo não entendemos o que se passa com ela, quais são suas reais intenções. De fato, uma contribuição importante pro mistério crescer na trama.

Por fim, não teria como não comentar sobre a atuação do já conhecido Rupert Grint. Rosto conhecido da cultura pop, principalmente pelos filmes de Harry Potter, achei escolha interessante afinal, de um jeito ou de outro, fica um estigma quando um ator é observado desde criança em uma obra tão popular. Fiquei insegura, confesso — não durou um único episódio. Julian, irmão de Dorothy, é outro personagem complexo e interessante, os alívios cômicos (se é que pode-se chamar assim… quem assistir vai entender) ficam por conta dele mas sem destoar do clima da série.

Há alguns personagens transitórios tão importantes e interessantes quanto o núcleo de protagonistas e tão bem interpretados quanto.

5. Já tem final previsto

Talvez um dos maiores problemas de se acompanhar uma série atualmente é a incerteza de uma conclusão. Não é raro séries começarem super bem, com propostas interessantes e simplesmente sumirem do mapa sem mais nem menos — só pra citar algumas: Requiem, The Get Down, Sense 8, todas da Netflix.

Esse risco você não corre em Servant: de acordo com um tweet de Shyamalan, a 4ª e última temporada começou as etapas de gravação no final do ano passado e será lançada no começo de 2023. Bom ou ruim (espero que não plmdds!), já tem final.

A parte ruim talvez seja o tempo que vamos esperar até chegar na temporada conclusiva mas, até lá, tem outras séries pra ir assistindo enquanto esperamos…

E aí? Te convenci?

Espero que sim porque Servant é realmente uma série que entrega muito do que vem sendo reclamado que carece em outras séries; com um enredo original e bem executado em todos os aspectos. Entrega qualidade em tudo que se propõe e chama a atenção pela produção muitíssimo bem feita, sem precisar apelar à qualquer tipo de megalomania ou clichês para funcionar bem. Nada contra clichês, veja bem, mas é interessante ver uma mídia audiovisual seguindo caminhos diferentes para variar.

É uma série muito boa, simplesmente.

Assiste e me conta, te garanto!

A seita de Basgallop e Shyamalan esperam por você!

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Written by bel petit

Artista, curadora e diretora de arte. Clichê: apaixonada por cinema. Total lack of social skills. Escrevo quando tenho coisas demais na cabeça.

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